quinta-feira, 30 de setembro de 2010

A raiva melhora a capacidade de tomar decisão?

Introdução - Ben Franklin nos disse que ela é uma companheira da insensatez e John Dryden afirmou que ela "habita o seio dos tolos". Mas os Sith nos dizem para dar atenção a ela e a banda Rage Against the Machine afirma que é uma dádiva. Nós gostamos de "Guerra nas Estrelas" e de rock. Sendo assim, como devemos nos sentir em relação à raiva?
Um novo estudo realizado por pesquisadores na Universidade da Califórnia, em Santa Bárbara, confere um novo paradigma à teoria de que há alguns aspectos positivos em relação à raiva, principalmente relacionados à tomada de decisão. Os resultados do estudo, que foi conduzido pelos professores Wesley Moons e Diane Mackie, foram publicados no "Personality and Social Psychology Bulletin" do mês de maio. No artigo intitulado "Thinking Straight While Seeing Red: The Influence of Anger on Information Processing" (em "tradução livre": Pensamento Direto Enquanto se Enxerga Tudo em Vermlho: A Influência da Raiva ao Processar Informações) e eles explicam que os estudos anteriores foram interpretados para demonstrar que as pessoas zangadas são menos analíticas e confiam mais em estereótipos. Entretanto, os pesquisadores consideraram que alguns desses estudos não foram convincentes e outros podem destacar aspectos positivos pouco discutidos da raiva na tomada de decisão. 
Para investigar sua afirmação, o Dr. Moons e a Dra. Mackie realizaram três experimentos que testaram os efeitos da raiva em raciocínios analíticos. As pessoas que participaram dos testes eram alunos da Universidade da Califórnia em Santa Bárbara. No primeiro teste, as pessoas foram divididas em dois grupos, um que ficaria zangado e outro que permaneceria "neutro". No primeiro grupo, alguns alunos escreveram sobre uma experiência passada que os deixou zangados; os demais foram induzidos a se zangar quando um "participante criticou severamente seus objetivos de vida". Depois de assegurar que alguns dos alunos estavam suficientemente irritados, foi pedido aos dois grupos que fizessem uma distinção entre argumentos fracos e contundentes em ensaios que sugeriam que alunos da graduação têm boas práticas financeiras. Os argumentos contundentes citavam estudos anteriores e pesquisas sobre o assunto; os argumentos fracos faziam afirmações precisas sem apresentar evidências.
Está com raiva? Não se acalme, porque isso pode ser bom para os negócios.
Experimentos sobre a raiva - No final, os resultados dos dois testes demonstraram que os alunos zangados foram mais bem-sucedidos do que o grupo de controle dos alunos neutros ao optar por argumentos mais contundentes.
Os testes pareceram colaborar com as afirmações dos pesquisadores, mas eles decidiram ser mais rigorosos. No terceiro e último teste, os alunos fizeram uma avaliação por escrito para determinar suas capacidades analíticas. Aqueles que foram analisados como menos propensos analíticamente foram separados dos que pareceram ser mais analíticos. As pessoas menos analíticas receberam argumentos sobre a introdução de exames abrangentes obrigatórios para a graduação dos alunos de uma faculdade, uma idéia que era considerada bastante impopular. Entre as pessoas menos analíticas, os zangados tiveram um melhor desempenho ao distinguir os argumentos contundentes dos fracos. As pessoas neutras não demonstraram nenhum aumento na capacidade analítica.
A raiva e sua saúde - Uma pequena quantidade de raiva pode ter benefícios positivos. Mas acessos de raiva freqüentes, dramáticos ou até violentos podem afetar sua saúde de forma negativa, contribuindo para o estresse e doenças cardíacas. A raiva também pode acarretar um comportamento arriscado ou nocivo.  
O experimento foi realizado novamente, mas, desta vez, foi dito aos alunos quem escreveu os argumentos: uma empresa preocupada com o seu setor financeiro e uma organização médica. A intenção era que aqueles que receberam a informação de que a empresa de finanças elaborou uma declaração tendessem a ser a favor dessa declaração, independentemente da sua qualidade. Por outro lado, uma declaração formulada por uma organização médica pareceria menos confiável. 
Conclusões - A julgar por estes testes, parece que, ao se fazer a distinção entre diversos argumentos, as pessoas zangadas ignoram informações que são irrelevantes para a qualidade do argumento como, por exemplo, a sua fonte. Entretanto, pessoas neutras apresentam uma preferência indevida por essas dicas. No seu relatório, o Dr. Moons e a Dra. Mackie escreveram que "pessoas zangadas geralmente eram sensíveis às variações na qualidade do argumento". Em outras palavras, eles prestam atenção à heurística ou às dicas que realmente importam, qualidade do argumento, fatos fornecidos, etc. Ao contrário da crença comum, a raiva agora pode ser encarada como um "motivador" do pensamento analítico, em vez de uma barreira.
O estudo da Universidade da Califórnia, em Santa Bárbara, mostra que a raiva pode ajudar a impulsionar o pensamento analítico, já que pessoas zangadas ignoram, com mais freqüência, informações que são menos úteis. Mas por quê? Caso pense a respeito, há uma lógica subjacente. A raiva é uma emoção que demanda uma resposta. Às vezes, essa resposta pode ser nociva ou violenta. Mas, em outros casos, ela pode ser construtiva como, por exemplo, um desejo de encontrar uma solução ao se concentrar em pensar de forma analítica. E, conforme vimos no terceiro teste, até mesmo as pessoas que não demonstravam uma tendência analítica viram um aumento na sua capacidade de raciocínio ao ficarem um pouco aborrecidas. O estudo também destaca que, em geral, as pessoas zangadas têm vontade de ver alguém ser punido, um sentimento que poderia motivá-las a classificar um argumento em detrimento de outro.

(Fonte: Como Isso Funciona?)

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